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Problema
(A partir da 1ª série do E. M. – Nível de dificuldade: Difícil)
(LV Olimpiada Matemática Española, 2019- Adaptado) Seja n um número inteiro maior do que 1 e considere o triângulo ABC com as seguintes propriedades:
- os lados AB e AC têm o mesmo comprimento;
- o lado BC mede 4n centímetros;
- a altura relativa ao lado BC mede (n2−1) centímetros.
Determinar todos os valores de n para os quais a medida em centímetros do raio da circunferência inscrita no triângulo ABC seja um número inteiro.

Lembretes
✐ Informações importantes sobre triângulos e circunferências:
(1) O centro da circunferência inscrita em um triângulo é o incentro, que é o encontro das três bissetrizes internas desse triângulo.(Bissetriz de um triângulo é um segmento com extremidades em um vértice e no respectivo lado oposto e que divide o ângulo interno definido por esse vértice em dois ângulos com a mesma medida.)
(2) A bissetriz relativa à base de um triângulo isósceles também é uma mediana e uma altura.
(3) Toda tangente a uma circunferência é perpendicular ao raio no ponto de tangência.
✐ Congruência de triângulos retângulos:
(4) Se dois triângulos retângulos têm ordenadamente congruentes um cateto e a hipotenusa, então estes triângulos são congruentes.
Notação
Denotaremos o segmento definido por dois pontos genéricos, digamos X e Y, por ¯XY e o seu comprimento por XY.
Solução 1
Vamos fazer duas figuras com os dados do problema, para facilitar a nossa solução.
- Na figura da esquerda, já vamos inserir algumas conclusões que obtemos utilizando os dois primeiros Lembretes:
como o ponto O é o centro da circunferência inscrita no triângulo ABC, a semirreta AO é uma bissetriz e, portanto, o segmento ¯AD é também a mediana e a altura desse triângulo relativa à base ¯BC. Dessa forma, o comprimento em centímetros dos segmentos ¯BD e ¯DC é 2n.
Vamos considerar que E e F são pontos de tangência da circunferência inscrita e que r é o comprimento do raio dessa circunferência. - Note que, como os triângulos ABD e ACD são retângulos, o Teorema de Pitágoras nos permite obter os comprimentos dos lados ¯AB e ¯AC:
AB2=(2n)2+(n2−1)2
AB2=4n2+n4−2n2+1
AB2=4n2+n4−2n2+1
AB2=n4+2n2+1
AB2=(n2+1)2
AB=n2+1.
- Observe agora que, utilizando o caso de congruência citado nos Lembretes, podemos concluir que os triângulos OEB e ODB são congruentes.
Assim, EB=DB=2n e, portanto, segue que:
AE=AB−EB
AE=(n2+1)−2n
AE=n2−2n+1
AE=(n−1)2.
- Aplicando uma vez mais o Teorema de Pitágoras, agora ao triângulo retângulo AEO, temos que:
- Como AD=AO+OD, segue que:
AO2=EO2+AE2
AO2=r2+((n−1)2)2
AO=√r2+(n2−1)4.
n2−1=√r2+(n−1)4+r
√r2+(n−1)4=n2−1−r
(√r2+(n−1)4)2=(n2−1−r)2
r2+(n−1)4=(n2−1−r)2
r2+n4−4n3+6n2−4n+1=n4−2n2−2rn2+2r+1+r2
r2+n4−4n3+6n2−4n+1=n4−2n2−2rn2+2r+1+r2
−4n3+6n2−4n=−2n2−2rn2+2r
−4n3+8n2−4n=−2rn2+2r
rn2−r=2n3−4n2+2n
r(n2−1)=2n(n2−2n+1)
r(n+1)(n−1)=2n(n−1)2
r(n+1)(n−1)=2n(n−1)(n−1)
r(n+1)=2n(n−1)
\qquad r=2n\cdot\dfrac{n-1}{n+1}.\qquad \qquad \textcolor{#800000}{(i)}
Queremos que o comprimento r do raio da circunferência seja um número natural; assim, vamos tentar reescrever \textcolor{#800000}{(i)} explicitando números inteiros do lado direito da igualdade:
\qquad r=2n\cdot\dfrac{n-1}{n+1}\\
\qquad r=2n\cdot\dfrac{n+1-2}{n+1}=2n\cdot\left(\dfrac{n+1}{n+1}-\dfrac{2}{n+1}\right)\\
\qquad r=2n\cdot\left(1-\dfrac{2}{n+1}\right)=2n-\dfrac{4n}{n+1}\\
\qquad r=2n-\dfrac{4n+4-4}{n+1}\\
\qquad r=2n-\dfrac{4n+4}{n+1}+\dfrac{4}{n+1}=2n-\dfrac{4\cdot (n+1)}{n+1}+\dfrac{4}{n+1}\\
\qquad r=2n-4+\dfrac{4}{n+1}.
Perceba que 2n-4 é um número inteiro; assim, para que r seja de fato um inteiro positivo, necessariamente \dfrac{4}{n+1} deve ser um número natural.
Dessa forma, a princípio, temos apenas três opções: n+1=1, n+1=2 e n+1=4; e, com isso, teríamos n=0, n=1 e n=3. Mas, pelos dados do problema, n é um número inteiro maior do que 1; portanto, \fcolorbox{black}{#eee0e5}{$n=3$}.
Solução elaborada pelos Moderadores do Blog.
Solução 2
Se utilizarmos a fórmula que nos garante que a área de um triângulo pode ser obtida multiplicando-se o semiperímetro desse triângulo pelo raio da circunferência nele inscrita, poderíamos obter a expressão \textcolor{#800000}{(i)} da solução anterior de uma outra forma. (Se você não se lembra desse resultado, dê uma olhada na propriedade (5) desta página.)
Vamos então fazer uma segunda solução para este problema e nela vamos também utilizar as duas figuras iniciais da Solução 1.
Observando a figura da direita, vemos um triângulo cujos lados medem n^2+1, 4n, n^2+1 e a altura mede n^2-1. A área S desse triângulo pode ser obtida por:
\qquad \qquad S=\dfrac{\text{base} \times \text{altura}}{2}=\dfrac{4n \times (n^2-1)}{2}
\,\\
\qquad \qquad S=\text{semiperímetro} \times r=\dfrac{n^2+1+4n+n^2+1}{2} \times r.
Assim, segue que:
\qquad \qquad \dfrac{4n \times (n^2-1)}{2}=\dfrac{n^2+1+4n+n^2+1}{2} \times r
\qquad \qquad 4n \times (n^2-1)=\left(n^2+1+4n+n^2+1\right) \times r
\qquad \qquad 4n \times (n^2-1)=\left(2n^2+2+4n\right) \times r
\qquad \qquad 2n \times (n^2-1)=\left(n^2+1+2n\right) \times r
\qquad \qquad 2n \times (n+1)\times (n-1)=\left(n+1\right)^2 \times r
\qquad \qquad 2n \times (n-1)=\left(n+1\right) \times r
\qquad \qquad r=2n\times\dfrac{n-1}{n+1}.\qquad \qquad \textcolor{#800000}{(i)}
Daqui para frente, a finalização é idêntica à da solução anterior.
Solução elaborada pelos Moderadores do Blog.
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