Clique no botão abaixo para visualizar a Sala.
2) Agora, Júlia quer dividir um número diferente de balas entre 13 amigos, de modo que cada um deles receba 4 balas a mais do que restará a ela. Quais as quantidades possíveis de balas que Júlia pode ter?
Muitas questões em nosso cotidiano, como as apresentadas acima, envolvem restos; e o ramo da Matemática responsável pelo seu estudo é a Aritmética dos Restos ou Aritmética Modular. Apesar de questões como estas serem resolvidas comumente pelo “Algoritmo da Divisão Euclidiana”, alguns problemas e demonstrações mais complexas exigem um conhecimento aprofundado do assunto, bem como notações mais elaboradas.
Há muito estudo sobre o tema em livros sobre Aritmética e Teoria dos Números. No entanto, apesar de utilizarmos os restos de divisões para resolver inúmeros problemas, tanto teóricos quanto reais, esse assunto não está presente nos currículos do Ensino Médio e, portanto, o material destinado aos alunos nessa fase de ensino é escasso.
O objetivo desta Sala de Estudos é permitir que você, caro leitor, aprofunde um pouco mais seus conhecimentos acerca dos elementos da divisão e, sobretudo, do resto. Ao final do conteúdo, apresentaremos também alguns problemas sobre o assunto, muito comuns tanto em concursos e vestibulares como em Olimpíadas de Matemática mais avançadas.
Se você ficou curioso(a) com relação às soluções dos problemas apresentados acima, é só clicar no botão abaixo!
2) Pelo Algoritmo da Divisão Euclidiana, o qual veremos logo adiante, temos que o problema pode ser equacionado do seguinte modo: sendo [tex]a[/tex] a quantidade inicial de balas, então:
[tex]\quad a=13(r+4)+r[/tex], sendo [tex]0\leq r \leq12, r \in \mathbb{ℤ}. [/tex]
Os valores positivos de [tex]a[/tex] que podem ser obtidos a partir dessas informações são, portanto, os seguintes:
[tex]\qquad a \in \{52,66,80,94,108,122,136,150,164,178,192,206,220\}.[/tex]
I – Divisão e Aritmética: Um pouco de História…
De acordo com os historiadores, quem introduziu o estudo da Matemática na Grécia, berço do pensamento ocidental, foi Tales de Mileto (640-546 a.C.). Tales teria trazido consigo para a Grécia os conhecimentos de Geometria e Aritmética que aprendera com os sacerdotes egípcios. Interessado em Astronomia e Filosofia, Tales difundiu a Geometria na sua cidade, chamada Mileto. Ao fazê-lo, acabou por introduzir uma inovação revolucionária que em muito se diferia da matemática egípcia: a ideia de que as verdades matemáticas devem ser provadas. A diferença entre a Matemática que se iniciava na Grécia Antiga e a egípcia era que, enquanto para os egípcios ela se tratava de uma arte que os auxiliava em seus trabalhos de engenharia e agrimensura, na Grécia ela adquiriu de fato um caráter científico, graças à atividade filosófica que lá já se desenvolvia. (Para saber mais sobre Tales de Mileto, clique AQUI.)
Logo em seguida, foi Pitágoras de Samos (580-500 a.C.), discípulo de Tales, quem, juntamente com sua famosa e histórica Escola Pitagórica, se encarregou de desenvolver e difundir a Matemática pela Grécia e suas colônias. A Escola Pitagórica atribuía aos números um poder místico, havendo uma ideia de que o Universo era regido por uma inteligência superior, essencialmente matemática. (Para saber mais sobre Pitágoras, clique agora AQUI.)
Os gregos tinham uma forte inclinação à filosofia e à lógica, de modo que isto influenciou fortemente toda a sua cultura e, particularmente, seu modo de fazer Matemática. Um grande exemplo disso foi o filósofo Platão (429-348 a.C.) que, apesar de não ser matemático, nela via um treinamento indispensável ao filósofo, pois ressaltava a metodologia axiomático-dedutiva a ser seguida, de acordo com ele, em todos os campos do conhecimento. A importância que Platão atribuía à Matemática era tão forte que o fez escrever no portal de sua escola a famosa frase “Que não entre nesse local alguém ignorante em Geometria”.
Com toda essa herança cultural, surge em Alexandria, por volta de 300 a.C., um tratado que futuramente viria a se tornar um dois mais importantes da Matemática, Os Elementos, de Euclides. Esse tratado, composto por treze livros, contém a maior parte do conhecimento matemático da época sistematizado.
Dos treze livros de Os Elementos, dez tratam de Geometria e três, de Álgebra. Em um desses três, o livro VII, Euclides define os conceitos de divisibilidade, de número primo, de números perfeitos, de máximo divisor comum (MDC) e mínimo múltiplo comum (MMC), entre outros. Nesse livro, além das definições feitas, todas bem definidas e até hoje muito utilizadas, encontra-se enunciada a divisão com resto de um número natural por outro, chamada divisão euclidiana. Com o uso dessa divisão, Euclides estabelece o algoritmo mais eficiente para se fazer o cálculo do MDC entre dois inteiros, chamado de Algoritmo de Euclides. (Para saber mais sobre Euclides, clique AQUI.)
Após Euclides, a Aritmética estagnou-se por cerca de 500 anos, tendo ressuscitado com os trabalhos de Diofanto de Alexandria. A obra que ele nos legou chama-se Arithmetica e foi escrita também em treze volumes, apesar de nem todos terem chegado até nós, de modo a tornar-se o primeiro trabalho de Álgebra com abordagem não revestida de qualquer linguagem ou interpretação tão somente geométrica, como fizeram seus predecessores. Tido por muitos como “pai da álgebra”, uma das importantes contribuições de Diofanto são as chamadas equações diofantinas, as quais serão melhor exploradas nos tópicos seguintes. (Para saber mais sobre Diofanto, clique AQUI.)
II – A Divisão Euclidiana
A Divisão Euclidiana, ou divisão com resto, é uma operação que toda criança aprende na escola. Escrita de maneira formal, e não como ela é tratada nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a Divisão Euclidiana afirma o seguinte:
[tex]\qquad x=y \cdot q+r[/tex], com [tex] 0 \leq r \lt y.[/tex]
Veja o esqueminha:
[tex]\qquad \qquad ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ \begin{array}{r}
x \, \end{array} \begin{array}{|r}
\, y \, \, \, \\ \hline
\end{array}[/tex]
[tex]\qquad \qquad ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ \begin{array}{r}
r
\end{array}\begin{array}{r}
\, \, \, q
\end{array}\qquad \qquad[/tex]
Para os nossos propósitos, precisaremos estender esse resultado para o conjunto dos números inteiros e, portanto, trabalharemos com o seguinte enunciado para a Divisão de Euclides:
As duas versões podem ser demonstradas pelo chamado Princípio da Boa Ordem ou Princípio da Boa Ordenação, o qual garante que: “Todo subconjunto não vazio do conjunto dos números naturais possui um menor elemento”.
Um caso particular, e geralmente o mais explorado ao iniciarmos o aprendizado sobre o processo de divisão quando crianças, é o caso em que a divisão é dita exata. Neste caso, o resto da divisão é igual a zero e podemos falar sobre o conceito de divisibilidade.
Definição: Dados números inteiros [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex], com [tex]b \ne 0[/tex], dizemos que [tex]b[/tex] divide [tex]a[/tex], ou que [tex]b[/tex] é divisor de [tex]a[/tex], ou ainda que [tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]b[/tex], quando existe um valor inteiro [tex]q[/tex] tal que [tex]a=b \cdot q[/tex], e neste caso denotamos [tex]b \mid a[/tex].
Quando não existe um inteiro [tex]q[/tex] satisfazendo [tex]a=b \cdot q[/tex], dizemos que [tex]b[/tex] não divide [tex]a[/tex] e denotamos [tex]b \nmid a[/tex].
Observe que neste último caso, vale a divisão euclidiana entre [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] com resto [tex]\textcolor{red}{1} \leq r \lt |b|.[/tex]
Observação: É comum não escrever o sinal [tex] \cdot[/tex] para indicarmos, por exemplo, o produto [tex]\boxed{g \cdot h}[/tex] e escrever esse produto apenas por justaposição dos fatores: [tex]\boxed{gh}.[/tex]
Não vamos aprofundar o estudo de divisibilidade, já temos muito material sobre esse assunto no nosso Blog. Mas vamos apresentar um resultado que será muito utilizado, implícita ou explicitamente, nas nossas discussões:
Propriedade (*): Sejam [tex]a~[/tex], [tex]b~[/tex] e [tex]~c[/tex] números inteiros, com [tex]c \ne 0.[/tex]
Se [tex]c \mid a~[/tex] e [tex]~c \mid b[/tex], então [tex]c \mid (ax+by)[/tex], para quaisquer [tex]x,y \in \mathbb{Z}.[/tex]
De [tex]c \mid a[/tex], segue que existe um inteiro [tex]m[/tex] tal que [tex]a=c m.[/tex]
De [tex]c \mid b[/tex], segue que existe um inteiro [tex]n[/tex] tal que [tex]b=c n.[/tex]
Assim, se [tex]x~[/tex] e [tex]~y[/tex] são números inteiros quaisquer, segue que:
[tex]\qquad ax+by=(cm)x+(cn)y=c(mx+ny).[/tex]
Então, se [tex]mx+ny=t[/tex], podemos afirmar que
[tex]\qquad \boxed{ax+by=ct \text{ com } t \in \mathbb{Z}}[/tex],
uma vez que [tex] m,n,x,y \in \mathbb{Z}.[/tex]
Assim, pela definição de divisibilidade no conjunto dos números inteiros, segue que [tex]c \mid (ax+by).[/tex]
O estudo da divisibilidade de inteiros é muito importante para o estudo de congruências, que trataremos logo a seguir, pois nos permite perceber se um número terá ou não resto zero em uma determinada divisão.
Vale lembrar que em algumas situações não precisamos fazer divisões para saber se um dado número [tex]a[/tex] é divisível por um dado número [tex]b[/tex]: basta utilizar os conhecidos como Critérios de Divisibilidade, que são regras que permitem verificar se um número é divisível por outro sem a realização de longos cálculos. Para conhecer alguns critérios de divisibilidade, clique AQUI.
III – Congruências
É bastante natural escrevermos 23+7=30. Porém, você já se deparou com uma igualdade do tipo “23+7=6”?
Em que contexto afirmar isso faz sentido?
Bem, nesta Sala de Estudos veremos que expressões como “23+7=6” fazem sentido quando estamos trabalhando com Congruências e Aritmética Modular. Ficou confuso(a)?
Então, imagine que Joana adormeceu às 23h e dormiu por 7 horas. Em que horário ela acordou?
Provavelmente, a sua primeira ideia de resolução foi somar 23+7. No entanto, não faz sentido dizer que Joana acordou às 30h do mesmo dia, afinal, o dia só tem 24 horas! Nesse contexto, estabelecer a igualdade “23+7=6” faz sentido, de modo que podemos dizer corretamente que Joana acordou às 6h do dia seguinte. Para diferenciar a igualdade “23+7=6” da igualdade usual 23+7=30, é usual escrever [tex]23+7\equiv6\, (\text{mod}\,24)[/tex], que podemos ler como “vinte e três mais sete é congruente a 6 módulo 24”.
Agora, vejamos uma definição formal da ideia apresentada acima:
Diz-se que [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m[/tex] (ou que [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] são congruentes) se, e somente se, [tex]m[/tex] divide a diferença [tex]a-b.[/tex]
Neste caso, escrevemos [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e lemos [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b.[/tex]
Quando a relação [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] é falsa, dizemos que [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] não são congruentes e denotamos este fato por [tex]a \not\equiv b \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Por exemplo, temos que [tex]12\equiv 2 \,(\text{mod}\,5)[/tex], pois [tex]5\mid (12−2)~[/tex]; e [tex]~19\equiv 4 \,(\text{mod}\,15)[/tex], pois [tex]15\mid (19−4).[/tex] Mas [tex]11\not \equiv 4 \,(\text{mod}\,5)[/tex], já que [tex]5\nmid (11−4)[/tex]; e [tex]~25\not \equiv 6 \,(\text{mod}\,15)[/tex], já que [tex]15\nmid (25−6).[/tex]
Particularmente, [tex](23+7)\equiv6\, (\text{mod}\,24)[/tex], pois [tex]24\mid (30−6).[/tex]
Uma propriedade que será fundamental na utilização de congruências para conseguirmos definir a chamada Aritmética dos Restos irá relacionar congruências com restos de divisões euclidianas. Observe:
Então, [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m[/tex] se, e somente se, [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto quando divididos por [tex]m.[/tex]
Temos que provar duas afirmações:
(i) Se [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m[/tex], então [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto quando divididos por [tex]m.[/tex]
(ii) Se [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto quando divididos por [tex]m[/tex], então [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m.[/tex]
Vamos lá!
(i) Suponhamos que [tex]a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m.[/tex] Então, por definição, temos que [tex]m[/tex] divide a diferença [tex]a-b.[/tex]
Assim, existe [tex]k \in \mathbb{Z} [/tex] tal que [tex]\boxed{a-b=km}.[/tex]
Agora, seja [tex]r[/tex] o resto da divisão de [tex]b[/tex] por [tex]m[/tex]; então, pela Divisão Euclidiana, [tex]\boxed{b=qm+r}[/tex], sendo [tex]0 \leq r \lt m.[/tex]
Pelo exposto. segue que:
[tex]\qquad a=b+km=(qm+r)+km=(q+k)m+r.[/tex]
Como [tex]0 \leq r \lt m[/tex], pela unicidade do resto e do quociente de uma divisão, concluímos que
[tex]\quad \rhd q+k[/tex] é o quociente da divisão de [tex]a[/tex] por [tex]m.[/tex]
[tex]\quad \rhd r[/tex] é o resto da divisão de [tex]a[/tex] por [tex]m.[/tex]
Portanto, os inteiros [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto quando divididos por [tex]m.[/tex]
(ii) Suponhamos agora que [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto [tex]r[/tex] quando divididos por [tex]m.[/tex]
Então, existem inteiros [tex]q_1[/tex] e [tex]q_2[/tex] tais que:
[tex]\qquad a=mq_1+r[/tex], com [tex]0 \leq r \lt m[/tex]
e
[tex]\qquad b=mq_2+r[/tex], com [tex]0 \leq r \lt m.[/tex]
Portanto, segue que:
[tex]\qquad a-b=\left(m q_1+r\right)-\left(mq_2+r\right)\\
\qquad a-b=m q_1+r-mq_2-r\\
\qquad a-b=m\left(q_1-q_2\right).[/tex]
Como [tex]q_1-q_2 \in \mathbb{Z}[/tex], então [tex]m \mid (a-b)[/tex] e, por definição, [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Podemos, então, utilizar duas caracterizações de inteiros côngruos [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex]; quais sejam:
[tex]\quad \rhd a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m[/tex] se, e somente se, [tex]m[/tex] divide a diferença [tex]a-b.[/tex]
[tex]\quad \rhd a~[/tex] é congruente a [tex]~b[/tex] módulo [tex]m[/tex] se, e somente se, [tex]a~[/tex] e [tex]~b[/tex] deixam o mesmo resto quando divididos por [tex]m.[/tex]
A seguir, vamos apresentar propriedades que poderão nos ajudar nas nossas discussões.
Algumas propriedades
Vamos apresentar a seguir algumas propriedades da relação de congruência. Cada uma delas está ilustrada por um pequeno exemplo. Para fins de simplificação, vamos assumir que os números com os quais estamos lidando sejam sempre inteiros e, particularmente o inteiro [tex]m[/tex] seja positivo ([tex]m \gt 0[/tex]).
► Propriedade 1. [tex]a\equiv a \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Como [tex]m \cdot 0=0[/tex] e [tex]a-a=0[/tex], temos que [tex]m \mid (a-a).[/tex] Logo, por definição, [tex]a\equiv a \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Exemplo:
[tex]\boxed{2\equiv 2 \,(\text{mod}\,3)}[/tex] ([tex]2−2=3\times 0[/tex])
► Propriedade 2. Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]b\equiv a \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]m \mid (a-b).[/tex] Assim, existe [tex]k \in \mathbb{Z}[/tex] tal que [tex]a-b=km.[/tex]
Dessa forma, segue que:
[tex]\qquad b-a=−(a-b)=-(km)=(-k)m[/tex], com [tex]-k \in \mathbb{Z}[/tex],
donde [tex]b\equiv a \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Exemplo:
[tex]\boxed{15\equiv 3 \,(\text{mod}\,12)}[/tex], já que [tex] 15−3=12\times 1.[/tex]
Logo, [tex]\boxed{3\equiv 15 \,(\text{mod}\,12)}.[/tex]
► Propriedade 3. Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e [tex]b\equiv c \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]a\equiv c \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e [tex]b\equiv c \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]m \mid (a-b)~[/tex] e [tex]m \mid (b-c).[/tex]
Assim, existem inteiros [tex]k[/tex] e [tex]t[/tex] tais que [tex]a-b=km~[/tex] e [tex]~b-c=tm.[/tex]
Portanto,
[tex]\qquad a-c=(a-b)+(b-c)=km+tm=(k+t)m.[/tex]
Como [tex]z=k+t \in \mathbb{Z}[/tex], então [tex]a-c=zm[/tex], com [tex]z\in \mathbb{Z}[/tex] e, portanto, [tex]m \mid (a-c)[/tex], ou seja, [tex]a\equiv c \,(\text{mod}\,m).[/tex]
(Observe que poderíamos ter utilizado a Propriedade (*) para concluir diretamente que, se [tex]m \mid (a-b)~[/tex] e [tex]m \mid (b-c)[/tex], então [tex]m \mid \left((a-b)+(b-c)\right)[/tex] e, portanto, [tex]m \mid (a-c).[/tex])
Exemplo:
Observe que [tex]\boxed{9\equiv 5 \,(\text{mod}\,4)}~[/tex] e [tex]~\boxed{5\equiv 1 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], pois [tex]9-5=1\times 4~[/tex] e [tex]~5-1=1\times 4[/tex].
Portanto, [tex]\boxed{9\equiv 1 \,(\text{mod}\,4)}.[/tex]
► Propriedade 4. Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e [tex]n \gt 0[/tex] é um inteiro tal que [tex]n \mid m[/tex], então [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,n).[/tex]
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]m \mid (a-b)~[/tex] e, com isso, existe um inteiro [tex]k[/tex] tal que [tex]a-b=km.[/tex]
Por outro lado, se [tex]n \mid m[/tex], com [tex]n \gt 0[/tex], então existe um inteiro [tex]t[/tex] de modo que [tex]m=tn.[/tex]
Fazendo as devidas substituições, temos [tex]a-b=(kt)n[/tex], como [tex]kt \in \mathbb{Z}.[/tex] Portanto [tex] n \mid (a-b)[/tex], donde segue que [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,n).[/tex]
Exemplo:
Como [tex]\boxed{9\equiv 1 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], pois [tex]9-1=2\times 4~[/tex], e [tex]\boxed{2 \mid 4}[/tex], então [tex]\boxed{9\equiv 1 \,(\text{mod}\,2)}.[/tex]
► Propriedade 5. Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e [tex]c\equiv d \,(\text{mod}\,m)[/tex], então:
(i) [tex](a+c)\equiv (b+d) \,(\text{mod}\,m).[/tex]
(ii) [tex]ac\equiv bd \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,m)[/tex] e [tex]c\equiv d \,(\text{mod}\,m)[/tex], então [tex]m \mid (a-b)~[/tex] e [tex]m \mid (c-d).[/tex]
Assim, existem inteiros [tex]k[/tex] e [tex]t[/tex] tais que [tex]a-b=km~[/tex] e [tex]~c-d=tm.[/tex]
Dessa forma:
(i) [tex](a+c)-(b+d)=(a-b)+(c-d)=km+tm=(k+t)m=zm[/tex], com [tex]z=k+t \in \mathbb{Z}[/tex] e, portanto, [tex]m \mid [(a+c)-(b+d)][/tex].
Logo, por definição de congruência, [tex](a+c)\equiv (b+d) \,(\text{mod}\,m).[/tex]
(Aqui também poderíamos ter utilizado a Propriedade (*) e, de [tex]m \mid (a-b)~[/tex] e [tex]m \mid (c-d)[/tex], concluir diretamente que [tex]m \mid \left((a-b)+(c-d)\right)[/tex] e, como isso, [tex]m \mid \left((a+c)-(b+d)\right).[/tex]
(ii) [tex]ac-bd=ac-ad+ad-bd=a(c-d)+d(a-b)=a(tm)+d(km)=(at+dk)m=ym[/tex], com [tex]y=at+dk \in \mathbb{Z}.[/tex]
Logo, [tex]m \mid (ac-bd)[/tex] e, portanto, [tex]ac\equiv bd \,(\text{mod}\,m).[/tex]
Exemplo:
Veja que [tex]\boxed{9\equiv 6 \,(\text{mod}\,3)}~[/tex] e [tex]~\boxed{5\equiv 2 \,(\text{mod}\,3)}[/tex], pois [tex]9-6=1\times 3~[/tex] e [tex]~5-2=1\times 3[/tex].
Logo, [tex]\boxed{(9+5)\equiv (6+2) \,(\text{mod}\,3)}~[/tex] e [tex]\boxed{(9\times 5)\equiv (6\times 2) \,(\text{mod}\,3)}~[/tex], isto é, [tex]\boxed{14 \equiv 8 \,(\text{mod}\,3)}~[/tex] e [tex]\boxed{45 \equiv 12 \,(\text{mod}\,3)}.[/tex]
► Propriedade 6. Sejam [tex]a[/tex], [tex]b[/tex], [tex]m[/tex] e [tex]n[/tex] inteiros positivos.
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,n)[/tex], então [tex]a^m\equiv b^m \,(\text{mod}\,n).[/tex]
Se [tex]a\equiv b \,(\text{mod}\,n)[/tex], temos que [tex] n \mid (a-b)[/tex], ou seja, existe um inteiro [tex]k[/tex] de modo que [tex]a-b=kn.[/tex]
Pela identidade algébrica
[tex]\qquad a^m-b^m=(a-b)\left(a^{m-1}+a^{m-2}b+a^{m-3}b^2+\cdots +ab^{m-2}+b^{m-1}\right)[/tex],
podemos concluir que
[tex]\qquad a^m-b^m=n\left(k\left(a^{m-1}+a^{m-2}b+a^{m-3}b^2+\cdots +ab^{m-2}+b^{m-1}\right)\right).[/tex]
Como [tex]a[/tex], [tex]b[/tex], [tex]m[/tex] e [tex]k[/tex] são inteiros positivos, então [tex]a^m-b^m=nt[/tex], com
[tex]\qquad k\left(a^{m-1}+a^{m-2}b+a^{m-3}b^2+\cdots +ab^{m-2}+b^{m-1}\right)=t \in \mathbb{Z}.[/tex]
Então, [tex]n \mid a^m-b^m[/tex], donde concluímos que [tex]a^m\equiv b^m \,(\text{mod}\,n).[/tex]
Exemplo:
Note que [tex]\boxed{7\equiv 3 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], pois [tex]7-3=1\times 4.[/tex]
Portanto, por exemplo,
[tex]\boxed{7^2\equiv 3^2 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], ou seja, [tex]49\equiv 9 \,(\text{mod}\,4).[/tex]
[tex]\boxed{7^3\equiv 3^3 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], ou seja, [tex]343\equiv 27 \,(\text{mod}\,4).[/tex]
[tex]\boxed{7^5\equiv 3^5 \,(\text{mod}\,4)}[/tex], ou seja, [tex]16807\equiv 243 \,(\text{mod}\,4).[/tex]
Exercícios de Fixação
Que tal alguns exercícios antes de prosseguir?
O que procuramos para a solução do problema é o valor de [tex]x[/tex], [tex]0\leq x \lt 7[/tex], para o qual [tex]100\times 101\times 102≡ x \,(\text{mod}\,7).[/tex]
Como [tex]100\equiv 2 \,(\text{mod}\,7)[/tex], pela Propriedade 5, temos que, [tex]\left(100+1\right)\equiv \left(2+1\right) \,(\text{mod}\,7)[/tex] e, então, [tex]101\equiv 3 \,(\text{mod}\,7)[/tex].
Da mesma forma, temos [tex]102\equiv 4 \,(\text{mod}\,7).[/tex]
Ainda pela Propriedade 5, temos:
[tex]\qquad 100\times 101\times 102\equiv 2\times 3\times 4\,(\text{mod}\,7)[/tex],
donde [tex]100\times 101\times 102\equiv 24\,(\text{mod}\,7)[/tex], ou ainda, [tex]100\times 101\times 102\equiv 3\,(\text{mod}\,7)[/tex], uma vez que [tex]24\equiv 3\,(\text{mod}\,7).[/tex]
Portanto, o resto na divisão de [tex] 100\times 101\times 102[/tex] por [tex]7[/tex] é [tex]3.[/tex]
Sabemos que [tex]34≡ 1 \,(\text{mod}\,11)[/tex]; portanto, pela Propriedade 6, temos que, [tex]34^2\equiv 1^2 \equiv 1\,(\text{mod}\,11).[/tex]
Além disso, pela Propriedade 1, [tex]5≡ 5 \,(\text{mod}\,11).[/tex]
Logo, pela propriedade 5,segue que:
[tex]\qquad 34^2 \times 5\equiv 1 \times 5 \equiv 5\,(\text{mod}\,11).[/tex]
Portanto, o resto na divisão de [tex] 34^2\times 5[/tex] por [tex]11[/tex] é [tex]5.[/tex]
Sabemos que [tex]16≡ 2 \,(\text{mod}\,7)[/tex]; portanto, pela Propriedade 6, temos que, [tex]16^{100}\equiv 2^{100} \,(\text{mod}\,7).[/tex]
Agora, resta-nos encontrar o resto na divisão de [tex]2^{100}[/tex] por [tex]7.[/tex]
Note que podemos encontrar um padrão nas divisões das potências de [tex]2[/tex] por [tex]7[/tex]; observe:
- Perceba que, para cada expoente que pode ser escrito como [tex]3n[/tex], sendo [tex]n[/tex] um valor inteiro positivo, [tex]2^{3n}[/tex] terá resto [tex]1[/tex] na divisão por [tex]7[/tex], como indicado em amarelo na tabela. Para todo número da forma [tex]3n+1[/tex], [tex]2^{3n+1}[/tex] terá resto [tex]2[/tex]; e, para todo número da forma [tex]3n+2[/tex], [tex]2^{3n+2}[/tex] terá resto [tex]4.[/tex]
Como [tex]100[/tex] é escrito na forma [tex]\boxed{3n+1}[/tex] ([tex]3\times 33+1=100[/tex]), temos que o resto da divisão solicitada é [tex]2.[/tex]
Classes Residuais e Aritmética Modular
Considerando, por exemplo, a divisão euclidiana de números inteiros por 2, o conjunto [tex] \mathbb{ℤ}[/tex] pode ser particionado em dois subconjuntos disjuntos: o dos números que deixam resto 0 na divisão por 2 (conjunto dos números pares) e o dos números que deixam resto 1 na divisão por 2 (conjunto dos números ímpares).
No estudo que estamos iniciando, esses dois conjuntos receberão nomes e notações especiais; respectivamente:
● classe residual módulo [tex]2[/tex] do número inteiro [tex]0[/tex], denotada por [tex]\overline{0}[/tex]
● classe residual módulo [tex]2[/tex] do número inteiro [tex]1[/tex], denotada por [tex]\overline{1}.[/tex]
Assim, só para ir nos acostumando com os novos conceitos, temos que:
[tex]\qquad \{\cdots -4,-2,0,2,4,6 \cdots \}=\{x \in \mathbb{Z}~;~x\equiv 0 \,(\text{mod}\,2)\}=\overline{0} [/tex]
[tex]\qquad \{\cdots −3,−1,1,3,5,7 \cdots \}=\{x \in \mathbb{Z}~;~x\equiv 1 \,(\text{mod}\,2)\}=\overline{1}.[/tex]
De forma análoga, considerando a divisão euclidiana de números inteiros por 5, outro exemplo, [tex]\mathbb{Z}[/tex] pode ser particionado em cinco subconjuntos: os subconjuntos disjuntos dos números que deixam resto 0, 1, 2, 3 e 4 quando divididos por 5.
Assim, fixada a congruência módulo 5, teremos: [tex]\mathbb{Z}= \overline{0} \cup \overline{1} \cup \overline{2} \cup \overline{3} \cup \overline{4}.[/tex]
Os subconjuntos [tex] \overline{0} \,;\, \overline{1} \,;\, \overline{2} \,;\, \overline{3} \,;\, \overline{4}[/tex] são igualmente denominados classes residuais; mas neste caso, são classes residuais módulo 5.
Cuidado: Observe que a classe residual [tex]\overline{0}[/tex] módulo [tex]2[/tex] é diferente da classe residual [tex]\overline{0}[/tex] módulo [tex]5[/tex]; o mesmo valendo para as respectivas classes residuais [tex]\overline{1}.[/tex]
Vamos generalizar essas ideias e conceitos.
Seja [tex]a[/tex] um número inteiro. Denotaremos por [tex]\overline{a}[/tex] o conjunto de todos os inteiros [tex]b[/tex] que são congruentes a [tex]a[/tex] módulo [tex]n[/tex]:
[tex]\qquad \overline{a}=\{b \in \mathbb{Z} \mid b\equiv a \,(\text{mod}\,n)\}.[/tex]
Esse conjunto será denominado classe residual de [tex]a[/tex] módulo [tex]n[/tex], ou simplesmente a “classe de [tex]a[/tex]”, se o módulo [tex]n[/tex] estiver fixado.
Observe que no conjunto [tex]\overline{a}[/tex] estarão todos os inteiros [tex]b[/tex] tais que [tex]n \mid (a-b)[/tex]; portanto, se [tex]b \in \overline{a}[/tex], [tex]a[/tex] e [tex]b[/tex] têm o mesmo resto quando divididos por [tex]n.[/tex] Dessa forma, se o resto da divisão de [tex]a[/tex] por [tex]n[/tex] for [tex]r[/tex], todos os elementos de [tex]\overline{a}[/tex] quando divididos por [tex]n[/tex] deixam resto [tex]r.[/tex]
Sabemos que as possibilidades para o resto de uma divisão por [tex]n[/tex] são [tex]0,\,1,\,2,\,\cdots\,, n-1[/tex], então temos [tex]n[/tex] classes residuais módulo [tex]n[/tex] e, portanto, conseguimos particionar o conjunto dos números inteiros em [tex]n[/tex] subconjuntos não vazios e disjuntos dois a dois: o “subconjunto dos inteiros que quando divididos por [tex]n[/tex] deixam resto [tex]0[/tex]”; o “subconjunto dos inteiros que quando divididos por [tex]n[/tex] deixam resto [tex]1[/tex]”; o “subconjunto dos inteiros que quando divididos por [tex]n[/tex] deixam resto [tex]2[/tex]”; [tex] \cdots[/tex]; o “subconjunto dos inteiros que quando divididos por [tex]n[/tex] deixam resto [tex]n-1[/tex]”.
Em símbolos:
[tex]\qquad \{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 0 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 1 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 2 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \qquad \vdots[/tex]
[tex]\qquad \{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv (n-1) \,(\text{mod}\,n)\}.[/tex]
Como estamos agrupando os números inteiros de acordo com o restos de uma divisão por [tex]n[/tex] e cada um desses conjuntos é uma classe residual módulo [tex]n[/tex], podemos utilizar a seguinte notação para esses conjuntos:
[tex]\qquad \overline{0}=\{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 0 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \overline{1}=\{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 1 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \overline{2}=\{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv 2 \,(\text{mod}\,n)\}[/tex];
[tex]\qquad \qquad\vdots[/tex]
[tex]\qquad \overline{n-1}=\{x \in \mathbb{Z}~\mid~x\equiv (n-1) \,(\text{mod}\,n)\}[/tex].