Loading [MathJax]/jax/element/mml/optable/SuppMathOperators.js

.Desafio – Quanto mede a área do hexágono?

Problema
(Indicado a partir do 9º ano do E. F.)


(XXXIX Olimpíada de Matemática Espanhola– 2003) Quais são as possibilidades para a medida da área de um hexágono que tem todos os ângulos internos com a mesma medida e cujos lados medem, em centímetros, 1,2,3,4,5,6, não necessariamente nessa ordem?

explicador_p

Lembretes

(1) A soma dos ângulos internos de um polígono convexo de n lados (n>2) é dada por:
Sin=(n2)180.
(2) Resista à tentação de pensar que se um polígono é equiângulo (tem todos os ângulos internos com a mesma medida), então ele necessariamente é equilátero (tem todos os lados com a mesma medida).(Por exemplo, um retângulo não quadrado é um polígono equiângulo, mas não equilátero.)
(3) A área de um triângulo equilátero de lados com comprimento x é dada por:
Ateq=x234.
(Por falar em área de triângulo equilátero, visite esta Sala para leitura.)

Solução


Vamos resolver o problema utilizando ferramentas matemáticas nada complicadas. Ele foi colocado como um desafio, pois envolve um tipo de raciocínio não muito comum.
Este é um daqueles problemas que, depois de resolvido, não é nada difícil entendermos a sua solução. Na verdade, este é um típico problema olímpico. Vamos lá, tentaremos fazer uma solução bem explicadinha…

Sejam a,b,c,d,e e f os comprimentos dos lados do hexágono em questão.
Com isso,
a+b+c+d+e+f=1+2+3+4+5+6=21.
Como esse hexágono tem todos os ângulos internos com a mesma medida, ele não pode ser côncavo. Sendo convexo, a soma dos ângulos internos desse hexágono é
Si6=(62)180=720
e, portanto, cada um de seus ângulos internos mede 7206=120, conforme ilustra a figura ao lado.
Dessa forma, podemos prolongar os lados desse hexágono e formar um grande triângulo equilátero! (Este é o "pulo do gato"!)

  • Com efeito, como os ângulos internos medem todos 120, então seus respectivos suplementos medem 60 e, portanto, definem três triângulos equiláteros pequenos. Isso faz com que o triângulo externo seja também equilátero, pois terá três ângulos de 60.

Seja, então, l o comprimento de cada lado do triângulo externo que construímos. Assim, l=a+b+c=c+d+e=e+f+a e, portanto:
(a+b+c)+(c+d+e)+(e+f+a)=3l
(a+b+c+d+e+f)+(a+c+e)=3l
21+(a+c+e)=3l
l=7+a+c+e3.(i)
Como os lados do hexágono medem 1,2,3,4,5 e 6 centímetros, o menor valor que a soma a+c+e pode assumir é 1+2+3=6 e o maior é 4+5+6=15. Logo, temos que:
2
\qquad 7+ 2 \leqslant 7+\dfrac{a+c+e}{3} \leqslant 7+5
\qquad 9 \leqslant 7+\dfrac{a+c+e}{3} \leqslant 12
ou seja, 9 \leqslant l \leqslant 12\, .
Vamos ter que analisar cada um desses quatro casos; e em cada análise, para efeito dos cálculos que faremos, nos interessará especificamente as medidas dos lados dos três triângulos equiláteros menores.

Caso 1: l=9
Neste caso, por \textcolor{#800000}{(i)}, temos a+c+e=6.
Como a+b+c+d+e+f=21, segue que b+d+f=15. Como a soma 6 é a mínima possível e a soma 15 é a máxima possível, então a,c,e \in \{1,2,3\} e b,d,f,\in \{4,5,6\}. Assim, os lados dos triângulos equiláteros menores medem 1,\, 2\, e \, 3 centímetros. Perceba que não importa a ordem em que escolhemos os valores de a,c,e, dentre os apresentados; pois para escolhas diferentes obteríamos o mesmo hexágono, apenas em uma posição diferente. Logo, sem perda de generalidade, podemos fazer:

  • a=1;\, c=2;\, e=3.
Caso 2: l=10
Neste caso, por \textcolor{#800000}{(i)}, temos a+b+c=9. Mais uma vez, como a+b+c+d+e+f=21, segue que d+e+f=12.
Aqui as escolhas para os valores de a,b,c,d,e,f serão um pouco mais complicadas.
A princípio, como os valores de a,c,e são distintos, temos que a,c,e \in \{1,2,6\}, a,c,e \in \{1,3,5\} ou a,c,e \in \{2,3,4\}.
Dessa forma, aqui temos três possibilidades:
a,c,e \in \{1,2,6\}\, e \, b,d,f,\in \{3,4,5\}
a,c,e \in \{1,3,5\}\, e \, b,d,f,\in \{2,4,6\}
a,c,e \in \{2,3,4\}\, e \, b,d,f,\in \{1,5,6\}

  • No primeiro caso, para o lado no qual teríamos segmentos de comprimentos 1 e 2 centímetros, necessitaríamos de um segmento de comprimento 7 centímetros para definir um dos lados do triângulo externo, o que não é possível.
  • No terceiro caso, para o lado no qual teríamos segmentos de comprimentos 2 e 4 centímetros, necessitaríamos de um segundo segmento de comprimento 4 centímetros para definir um dos lados do triângulo externo, o que não é possível, já que os seis segmentos têm comprimentos diferentes.
  • Assim, a,c,e \in \{1,3,5\}\, e, sem perda de generalidade, podemos fazer:

    • a=1;\, c=3;\, e=5.
    Caso 3: l=11
    Neste caso, por \textcolor{#800000}{(i)}, temos a+c+e=12. Mais uma vez, como a+b+c+d+e+f=21, segue que b+d+f=9.
    Aqui as escolhas para os valores de a,b,c,d,e,f também não serão feitas diretamente.
    Inicialmente, para os valores de a,c,e teremos a,c,e \in \{1,5,6\}, a,c,e \in \{2,4,6\} ou a,c,e \in \{3,4,5\}.
    Dessa forma, aqui temos três possibilidades:
    a,c,e \in \{1,5,6\}\, e \, b,d,f,\in \{2,3,4\}
    a,c,e \in \{2,4,6\}\, e \, b,d,f,\in \{1,3,5\}
    a,c,e \in \{3,4,5\}\, e \, b,d,f,\in \{1,2,6\}

  • No primeiro caso, para o lado no qual teríamos segmentos de comprimentos 5 e 6 não utilizaríamos um terceiro segmento, já que 5+6=11, o que não é possível.
  • No terceiro caso, para o lado no qual teríamos segmentos de comprimentos 3 e 4 centímetros, necessitaríamos de um segundo segmento de comprimento 4 centímetros para definir um dos lados do triângulo externo, o que não é possível, já que os seis segmentos têm comprimentos diferentes.
  • Assim, a,c,e \in \{2,4,6\}\, e,sem perda de generalidade, podemos fazer:

    • a=2;\, c=4;\, e=6.
    Caso 4: l=12
    Neste caso, por \textcolor{#800000}{(i)}, temos a+c+e=15.
    Como a+b+c+d+e+f=21, segue que b+d+f=6. Como a soma 6 é a mínima possível e a soma 15 é a máxima possível, então a,c,e \in \{4,5,6\} e b,d,f,\in \{1,2,3\}. Sem perda de generalidade, podemos fazer:

    • a=4;\, c=5;\, e=6.

    A partir dos quatro casos de comprimentos possíveis para os lados do hexágono, podemos finalmente calcular as possibilidades para a medida da sua área. Para tanto, observe que a medida da área do hexágono é a diferença entre a "medida da área do triângulo maior" e a "soma das medidas das áreas dos três triângulos menores ".

    Assim, se A_t é a medida da área do triângulo maior, então \boxed{\textcolor{#993300}{A_h}=A_t-\left(\textcolor{#ff6600}{A_1}+\textcolor{#7f00ff}{A_2}+\textcolor{#009900}{A_3} \right)}\, . Utilizando a fórmula do Lembrete (3), segue que:
    \qquad \qquad \textcolor{#993300}{A_h}=A_t-\left(\textcolor{#ff6600}{A_1}+\textcolor{#7f00ff}{A_2}+\textcolor{#009900}{A_3} \right)
    \qquad \qquad \textcolor{#993300}{A_h}=\dfrac{l^2\cdot\sqrt{3}}{4}-\left(\textcolor{#ff6600}{\dfrac{a^2\cdot\sqrt{3}}{4}}+\textcolor{#7f00ff}{\dfrac{c^2\cdot\sqrt{3}}{4}}+\textcolor{#009900}{\dfrac{e^2\cdot\sqrt{3}}{4}} \right)
    \qquad \qquad \textcolor{#993300}{A_h}=\dfrac{\sqrt{3}}{4} \cdot \left(l^2-\textcolor{#ff6600}{a^2}-\textcolor{#7f00ff}{c^2}-\textcolor{#009900}{e^2} \right).
    A tabela abaixo mostra os resultados dos cálculos da área do hexágono nos quatro casos possíveis analisados.

    \begin{array}{c|c|c|c|c} l& \textcolor{#ff6600}{a} & \textcolor{#7f00ff}{c} & \textcolor{#009900}{e} & \textcolor{#993300}{A_h}\\ \hline 9\, cm & \textcolor{#ff6600}{1\, cm} & \textcolor{#7f00ff}{2\, cm} & \textcolor{#009900}{3\, cm} & \textcolor{#993300}{\, \dfrac{67\sqrt{3}}{4}\, cm^2}\\ \hline 10\, cm & \textcolor{#ff6600}{1\, cm} & \textcolor{#7f00ff}{3\, cm} & \textcolor{#009900}{5\, cm} & \textcolor{#993300}{\, \dfrac{65\sqrt{3}}{4}\, cm^2}\\ \hline 11\, cm & \textcolor{#ff6600}{2\, cm} & \textcolor{#7f00ff}{4\, cm} & \textcolor{#009900}{6\, cm} & \textcolor{#993300}{\, \dfrac{65\sqrt{3}}{4}\, cm^2}\\ \hline 12\, cm & \textcolor{#ff6600}{4\, cm} & \textcolor{#7f00ff}{5\, cm} & \textcolor{#009900}{6\, cm} & \textcolor{#993300}{\, \dfrac{67\sqrt{3}}{4}\, cm^2}\\ \hline \end{array}


    Solução elaborada pelos Moderadores do Blog.

    Link permanente para este artigo: http://clubes.obmep.org.br/blog/problema-para-ajudar-na-escola-um-desafio-quanto-mede-a-area-do-hexagono/