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Linguagem matemática
Implicações e equivalências
Em uma teoria matemática, a partir de conceitos já conhecidos, outros conceitos vão sendo definidos e, portanto, palavras e expressões novas vão, continuamente, surgindo. Mas, independente do assunto, existem algumas expressões e palavras que são utilizadas com frequência e com significados próprios e bem definidos em textos matemáticos; neste tópico, vamos discutir um pouco sobre os significados de algumas delas.
Observamos que o interesse, aqui, não é estudar lógica matemática; queremos, apenas, que vocês se sintam mais seguros e confortáveis quando da leitura e compreensão das definições e proposições que aparecem nas nossas Salas.
Nesta nossa breve discussão, [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] representarão propriedades que se referem a elementos genéricos de um dado conjunto não vazio [tex]U[/tex]. Assim, por exemplo, podemos ter:
➤ [tex]U[/tex]: conjunto dos triângulos de um plano;
➤ [tex]P[/tex]: [tex]T[/tex] é equilátero;
➤ [tex]Q[/tex]: [tex]T[/tex] é isósceles.
➤ [tex]U[/tex]: conjunto dos números naturais;
➤ [tex]P[/tex]: [tex]a[/tex] é par;
➤ [tex]Q[/tex]: [tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]5[/tex].
➤ [tex]U[/tex]: conjunto das retas de um plano;
➤ [tex]P[/tex]: [tex]r[/tex] e [tex]s[/tex] são paralelas;
➤ [tex]Q[/tex]: [tex]r[/tex] e [tex]s[/tex] são perpendiculares.
Implicações
Se [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] são propriedades que se referem a elementos de um dado conjunto não vazio [tex]U[/tex], então as cinco expressões:
- se [tex]P[/tex], então [tex]Q[/tex]
- [tex]P[/tex] implica [tex]Q[/tex]
- [tex]P[/tex] acarreta [tex]Q[/tex]
- [tex]P[/tex] é condição suficiente para [tex]Q[/tex]
- [tex]Q[/tex] é condição necessária para [tex]P[/tex]
têm todas o mesmo significado. Elas querem dizer, simplesmente, que:
- todo elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tem a propriedade [tex]P[/tex] também tem a propriedade [tex]Q[/tex].
Para exprimir esse fato, é comum utilizarmos a seguinte notação:[tex] \, \, P \Rightarrow Q[/tex]. Dessa forma, se considerarmos os conjuntos:
[tex]\qquad \qquad A=\{ \, a \in U[/tex], tal que [tex]a[/tex] tem a propriedade [tex]P \, \}[/tex]
[tex]\qquad \qquad B=\{ \, b \in U[/tex], tal que [tex]b[/tex] tem a propriedade [tex]Q \, \}[/tex]
então escrevemos [tex] \, \, P \Rightarrow Q \, \, [/tex] para significar que [tex] \, \, A \subset B[/tex].
Nessas condições, é comum, também, utilizarmos a notação [tex] \, \, P \nRightarrow Q[/tex] para indicar a negação de [tex] \, \, P \Rightarrow Q[/tex]. Logo, a notação [tex] \, \, P \nRightarrow Q[/tex] indica que
- nem todo elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tem a propriedade [tex]P[/tex] também tem a propriedade [tex]Q[/tex]
ou, de outra forma, indica que
- é possível encontrar, pelo menos, um elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tenha a propriedade [tex]P[/tex] e que não tenha a propriedade [tex]Q[/tex].
Resumindo:
Se [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] são propriedades que se referem a elementos de um dado conjunto não vazio [tex]U[/tex], usamos as notações [tex] \, \, P \Rightarrow Q \, [/tex] e [tex] \, \, P \nRightarrow Q[/tex] para indicar que:
- [tex] \, \, P \Rightarrow Q \, [/tex]: todo elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tem a propriedade [tex]P[/tex] também tem a propriedade [tex]Q[/tex].
- [tex] \, \, P \nRightarrow Q \, [/tex]: é possível encontrar, pelo menos, um elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tenha a propriedade [tex]P[/tex] e que não tenha a propriedade [tex]Q[/tex].
Equivalências
Se, novamente, [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] forem propriedades que se referem a elementos de um dado conjunto não vazio [tex]U[/tex], também as expressões:
- [tex]P[/tex] é condição necessária e suficiente para [tex]Q[/tex]
- [tex]P[/tex] se, e somente se, [tex]Q[/tex]
- [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] são equivalentes
têm todas o mesmo significado. Elas querem dizer que "[tex]P \Rightarrow Q[/tex]" e "[tex]Q \Rightarrow P[/tex]", ou seja, que, simultaneamente,
- “todo elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tem a propriedade [tex]P[/tex] também tem a propriedade [tex]Q[/tex]” e “todo elemento do conjunto [tex]U[/tex] que tem a propriedade [tex]Q[/tex] também tem a propriedade [tex]P[/tex]”,
fato que denotamos como:[tex] \, \, P \Leftrightarrow Q[/tex]. Portanto, se considerarmos, uma vez mais, os conjuntos
[tex]\qquad A=\{ \, a \in U[/tex], tal que [tex]a[/tex] tem a propriedade [tex]P \, \}[/tex]
[tex]\qquad B=\{ \, b \in U[/tex], tal que [tex]b[/tex] tem a propriedade [tex]Q \, \}[/tex]
então escrever [tex] \, \, P \Leftrightarrow Q \, \, [/tex] significa que [tex] \, \, A = B \, \, [/tex].
Também é comum utilizarmos uma notação para indicar a negação de [tex] \, \, P \Leftrightarrow Q[/tex]. Assim, a notação [tex] \, \, P \nLeftrightarrow Q[/tex] indica que [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] não são equivalentes, ou seja, que, pelo menos, uma das seguintes situações ocorre: [tex] \, \, P \nRightarrow Q[/tex]; [tex] \, \, Q \nRightarrow P[/tex].
Resumindo:
Se [tex]P[/tex] e [tex]Q[/tex] são propriedades que se referem a elementos de um dado conjunto não vazio [tex]U[/tex], usamos as notações [tex] \, \, P \Leftrightarrow Q \, [/tex] e [tex] \, \, P \nLeftrightarrow Q[/tex] para indicar que:
- [tex] \, \, P \Leftrightarrow Q \, [/tex]: [tex] \, \, P \Rightarrow Q \, [/tex] e [tex] \, \, Q \Rightarrow P \, [/tex];
- [tex] \, \, P \nLeftrightarrow Q \, [/tex]: [tex] \, \, P \nRightarrow Q \, [/tex] ou [tex] \, \, Q \nRightarrow P \, [/tex].
Algumas observações
[tex]\textcolor{#4178a1}{(i)}[/tex] Observe atentamente a utilização dos símbolos [tex]\boxed{\subset \, \, \, \not \subset \, \, \, = \, \, \, \Leftrightarrow \, \, \, \nLeftrightarrow \, \, \, \Rightarrow \, \, \, \nRightarrow} \, [/tex]:
- Utilizamos [tex]\boxed{\subset \, \, \, \not \subset \, \, \, =} \, [/tex] entre conjuntos.
- Utilizamos [tex]\boxed{\Leftrightarrow \, \, \, \nLeftrightarrow \, \, \, \Rightarrow \, \, \, \nRightarrow} \, [/tex] entre propriedades.
[tex]\textcolor{#4178a1}{(ii)}[/tex] O símbolo [tex]\Rightarrow[/tex] não significa “então”.
Assim, não escreva coisas do tipo
- Se [tex]x[/tex] e [tex]y[/tex] são inteiros ímpares [tex]\Rightarrow x+y[/tex] é um número ímpar.
- Se [tex]6 | a[/tex] [tex]\Rightarrow 3 | a \, [/tex].
O correto seria:
- "[tex]x[/tex] e [tex]y[/tex] são inteiros ímpares" [tex]\Rightarrow[/tex] "[tex]x+y[/tex] é um número ímpar".
- [tex] \, 6 | a \Rightarrow 3 | a \, [/tex].
[tex]\textcolor{#4178a1}{(iii)}[/tex] Quando as frases que descrevem duas propriedades [tex]P \, [/tex] e [tex] \, Q[/tex] forem muito longas, não coloque a implicação [tex] \, \, P \Rightarrow Q[/tex] (ou a equivalência [tex] \, \, P \Leftrightarrow Q[/tex]) no meio de outra frase; isole-a em uma outra linha. Por exemplo:
- Suponha que [tex]x \, [/tex] e [tex] \, y[/tex] sejam números inteiros. Assim, temos a seguinte propriedade:
[tex]\qquad[/tex]"[tex] x[/tex] e [tex]y[/tex] ímpares" [tex]\Rightarrow[/tex] "[tex]x+y[/tex] ímpar".
Exemplos
Vamos construir frases matemáticas verdadeiras, utilizando os símbolos [tex]\boxed{\Leftrightarrow \, \, \, \nLeftrightarrow \, \, \, \Rightarrow \, \, \, \nRightarrow} \, [/tex].
Tente justificar a veracidade de cada uma.
[tex]\textcolor{#4178a1}{(i)}[/tex] Considere
➤ [tex]U[/tex]: conjunto dos triângulos de um plano;
➤ [tex]P[/tex]: [tex]T[/tex] é equilátero;
➤ [tex]Q[/tex]: [tex]T[/tex] é isósceles.
Então:
- [tex]P \Rightarrow Q[/tex].
ou
"[tex]T[/tex] é equilátero" [tex] \Rightarrow [/tex] "[tex]T[/tex] é isósceles".
- [tex]Q \nRightarrow P[/tex].
ou
"[tex]T[/tex] é isósceles" [tex] \nRightarrow [/tex] "[tex]T[/tex] é equilátero".
- [tex]P \nLeftrightarrow Q[/tex].
ou
"[tex]T[/tex] é equilátero" [tex] \nLeftrightarrow [/tex] "[tex]T[/tex] é isósceles".
[tex]\textcolor{#4178a1}{(ii)}[/tex] Considere
➤ [tex]U[/tex]: conjunto dos números naturais;
➤ [tex]P[/tex]: [tex]a[/tex] é par;
➤ [tex]Q[/tex]: [tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]5[/tex].
Então:
- [tex]P \nRightarrow Q[/tex].
ou
"[tex]a[/tex] é par" [tex]\nRightarrow [/tex] "[tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]5[/tex]".
- [tex]Q \nRightarrow P[/tex].
ou
"[tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]5[/tex]" [tex]\nRightarrow [/tex] "[tex]a[/tex] é par".
- [tex]P \nLeftrightarrow Q[/tex].
ou
"[tex]a[/tex] é par" [tex]\nLeftrightarrow [/tex] "[tex]a[/tex] é múltiplo de [tex]5[/tex]".
[tex]\textcolor{#4178a1}{(iii)}[/tex] (Ampliando a utilização) Considere:
➤ [tex]U[/tex]: conjunto dos números naturais.
Então:
- "[tex]x[/tex] é par e [tex]y[/tex] é par" [tex]\Rightarrow[/tex] "[tex]x+y[/tex] é par".
- "[tex]x+y[/tex] é par" [tex]\nRightarrow[/tex] "[tex]x[/tex] é par e [tex]y[/tex] é par".
- "[tex]x[/tex] é ímpar e [tex]y[/tex] é ímpar" [tex]\Rightarrow[/tex] "[tex]x+y[/tex] é par".
- "[tex]x+y[/tex] é par" [tex]\nRightarrow[/tex] "[tex]x[/tex] é ímpar e [tex]y[/tex] é ímpar".
As expressões “se, então” e “se, e somente se” são de extrema importância para a leitura e compreensão de textos de matemática; portanto, vamos resumir e registrar suas características.
Equipe COM – OBMEP